Do alto do Cerro...

...seculos de história indígena te contemplam e, ele, Nheçu, foi um dos primeiros líderes a perceber os problemas que a aculturação branca trazia para o continente de Nuestra America del Sur!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nheçu existiu realmente?

Diferente da busca dos relatos bíblicos de Jesus Cristo, que procuram comprovar sua efetiva existência, a busca dos dados históricos de Nheçu é mais fácil devido aos avanços da civilização em face dos livros e arquivos em poder de instituições da Espanha e da Igreja Católica (1).

Assim, Nheçu entrou para a história já nos primeiros relatos elaborados pelos jesuítas, contemporâneos dele, como o padre Antônio Ruiz de Montoya, em seu livro de título quilométrico: Conquista Espiritual, feita pelos Religiosas da Companhia de Jesus nas Províncias de Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape, de 1639 (a 2a edição saiu em 1892, sempre no idioma espanhol antigo), além das Cartas Anuas, que eram o relatório anual das atividades realizadas por cada sacerdote jesuíta e remetida para sua congregação, a Companhia de Jesus.
Comentando a ação de Nheçu, Montoya, em esclarecedoras palavras, conta do clima de animosidade existente entre os padres e Nheçu e, também, a importância deste chefe tribal: “Morava por aqueles contornos (o Cerro do Inhacurutum) o maior dos caciques que aqueles “países” (2) conheceram. Faziam-no respeitado as suas artimanhas, embustes e magias, com as quais enganava aquela gente bárbara. Chamava-se ele Nheçu (!): o que quer dizer “Reverência”.
Em diversas versões da história do Rio Grande do Sul, Nheçu passou a ser citado por alguns historiadores, a partir do livro de Carlos Teschauer, História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos.
Acontece, porém, que este livro, numa série de três volumes, foi editado apenas uma vez, nos anos de 1918, 1921 e 1922, respectivamente, ficando a partir de então, restrito às bibliotecas que por ventura o possuíssem, somente voltando a ser reeditado no ano de 2002 pela Editora da Unisinos, com uma “transcrição com atualização ortográfica e tradução vernácula”, algo polêmica, feita pelo jesuíta Arthur Rabuske.
Entretanto, será de forma mais recente e massiva que Nheçu irá aparecer com mais força, isso ocorrendo a partir do livro de Ruy Nedel, Esta Terra Teve Dono, lançado em 1983, além de Barbosa Lessa com Nheçu - no corredor central (1999), ABC do Tradicionalismo Gaúcho, onde Salvador Lamberty chama Nheçu de Palanque da Resistência Americana - “Nheçu, que muitos chamam de feiticeiro, foi o verdadeiro líder do povo indígena. Quem defendeu a nação do Tape. Sepe Tiaraju foi o símbolo da coragem de um povo aculturado. Nheçu foi o símbolo de um povo que pereceu apegado a seus princípios, defendendo sua Nação - !”, Sergio Venturini com Inhacurutum e as Missões Jesuíticas (2000) e outros autores, assim como as iniciativas efetuadas por pessoas oriundas da comunidade de Roque Gonzales (3), como as crônicas de Nelson Hoffmann, publicadas ao longo dos anos e reunidas no livro Terra de Nheçu (2006), a formação da Associação Cultural Nheçuana (2009) e a disseminação de artigos e matérias na rede mundial de computadores, a internet, em espaços criados em cima destes fatos e, para saber a extensão disso, bastando digitar a palavra NHEÇU no seu computador!
NOTAS:
(1) Carlos Teschauer, alemão, autor da História do Rio Grande do Sul dos Dois Primeiros Séculos, obra em três volumes, cuja montagem durou 10 anos e contou com viagens a Buenos Aires, Rio de Janeiro e consultas a arquivos em Roma, Bruxelas, Espanha e Portugal, entre outras cidades.
(2) “Países” porque toda essa vasta região pertencia à Espanha!
(3) O primeiro conto de JWG, História Guarani publicado na antologia CONTOS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO (1997), de forma ficcional, traz a lume as disputas de credos e crenças entre Nheçu e um índio e sua família, recém-convertidos ao catolicismo.

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