Do alto do Cerro...

...seculos de história indígena te contemplam e, ele, Nheçu, foi um dos primeiros líderes a perceber os problemas que a aculturação branca trazia para o continente de Nuestra America del Sur!

sábado, 4 de setembro de 2010

Livros impressos nas Missões

Uma falta de aprofundamento do que foi realmente a vida nas reduções jesuiticas, está contida na afirmação de que nelas não existiam livros!
Ora, o padre João de Castilho foi aprisionado pelos guarani quando estava lendo um livro de rezas, em 1628 e, o padre Roque Gonzales teria, contam por aí, traduzido para o idioma guarani o catecismo, nos seus tempos de Assunção do Paraguai!
Neste sentido, muito interessante é a entrevista de Kollontai Diniz com Fernanda Verísimo, realizada para o portal Brasiliana, acerca da Imprensa Jesuitítca-Guarani no Paraguai. Fernanda é jornalista e doutoranda em História Moderna e Contemporânea pela universidade de Sorbone, Parias (França).
A entrevista ocorreu pelo fato de que a Brasiliana da Universidade de São Paulo - USP, digitalizou dois livros das missões jesuitícas do Paraguai: Arte de la lengua guarani, de Antonio Ruiz de Montoya e o Explicacion de el catechismo en lengua guarani, de Nicolas Yapuguay, ambos impressos em 1724 no Pueblo de Santa Maria La Mayor, sendo livros muito raros e parte do que restou da produção de livros nas missões jesuíticas no Paraguai, que chegou a existir no período de 1700 a 1727.
Para se ter uma idéia da tremenda riqueza que representam estes livros, o Diferencia entre lo temporal y eterno, impresso em 1705, trazendo 43 gravuras, do qual só existem dois exemplares do mundo, localizados na Argentina, já teve proposta de compra (recusada pelo colecionador!) numa oferta superior a dois milhões de euros!
Pequeno trecho do livro, para se ver o idioma espanhol antigo e algumas palavras impressas em guarani, que era essecialmente oral:
Che (claYflarnidó á álgun Indio. Es ssmhien* parti -
cuta de quien fe rouéftra medio enfadji,JE. G- dice
uno: (cmondo V*gayaha) y Rcfpi el erro: (che)no
te liras urjpoeo.de pacicneiávy lodlce coa algún
tonillo/ « ‘ ‘
Cheay paco! Intericc. del que fe.duele.” Ay dérfti*
Caí (ola)’amando a’ocre y es Iaceriec. del que haíe
filencio oronuncíidó con vez baats’.
Chuira) lo mefmo que: (guara) T©biíchua ] p©r (Tobaigaa)
Obs. - tive acesso aos dois livros graças a divulgação da Biblioteca Digital Curt Nimuendaju. (JWG).

Salto Pirapó abrigou a primeira indústria da região!

Por João Weber Griebeler
O Sr. Aldino Spohr nos informa que no local em que foram encontradas as pontas de flechas indígenas, se encontravam também jogadas uma infinidade de outras pontas, levando a supor que o Salto Pirapó, devido à farta pesca, era um local de morada da tribo, época em que se fabricavam as pontas de flecha, sendo por isso, um rico sítio arqueológico.
Observa ele que as pontas de flecha que havia por ali, tinham alguma forma de imperfeição, tendo sido descartadas para constituir uma boa e certeira flecha.
Levando-se em consideração a importância de um local para a confecção de armamentos para as tribos guarani, se convenciona que o Salto Pirapó, formava com o Cerro do Inhacurutum (ponto regional de observação), um conjunto que mantinha o aparato bélico e estratégico de Nheçu.
Confirmando esta afirmativa, quem dirigir seu olhar para o Cerro do Inhacurutum, desde o Salto Pirapó, a partir do início da baixada do Passo São João, verá todo o esplendor do cerro, dominado a região, dando para imaginar um sistema de sinais de fumaça para sinalizar o ingresso de barcos inimigos através do Rio Ijuí, via Rio Uruguai.
Para ilustrar melhor essas considerações, vejam que de um lado haviam os domínios nheçuanos e, do outro, rodeando e penetrando a região como ponta de lança, a redução de São Nicolau, a Redução de Caaró e, por fim, a Redução de Assunção do Ijuí, aí Nheçu reagiu, martirizando os padres, em 1628!

As inverdades das Missões

Um dos percalços de quem procura divulgar Nheçu e a Primeira Fase das Missões (1610-1637)refere-se ao dualismo histórico entre esta, realizada sob domínio espanhol e a Segunda Fase (1682-1767), já sob domínio luso.
Tenho aqui comigo guardado um recorte do jornal Zero Hora, do dia 06/06/1988, páginas centrais do 2 caderno, onde se relta das comemorações dos 300 anos das Missões, que, sob este prima, teria seu início ocorrido somente em 1682!
O interessante é a entrevista com o cineasta Sylvio Back, catarinense de Blumenau, que entre outros filmes, produziu “República Guarani” (1982), na qual ele diz que - as reduções tem transmitido uma idéia ingênua da existência de um pacto social e espiritual entre jesuíta e néofito (índio), e nisto teria residido sua longevidade. Segundo o cineasta, o universo catequético que iniciou com os padres jesuítas ampliou-se ao infinito. (...). “A Igreja Católica, que continua embalada pela mesma estratégia de ocupação ideológica da mente do indígena, agora está disputando clientela com dezenas de outras religiões, seitas e quetais, sob a mesma cumplicidade do estado. Não é sem razão que, sintomaticamente, o indígena continua encontra-se mais sitiado do que há 300/400 anos”, conclui Back.
Falso conhecimento das Missões
Uma falta de aprofundamento do que foi realmente a vida nas reduções jesuiticas, está contida na afirmação de que nelas não existiam livros!
Ora, o padre João de Castilho foi aprisionado pelos guarani quando estava lendo um livro de rezas, em 1628 e, o padre Roque Gonzales teria, contam por aí, traduzido para o idioma guarani o catecismo, nos seus tempos de Assunção do Paraguai!
Neste sentido, também muito interessante é a entrevista de Kollontai Diniz feita com Fernanda Verísimo, realizada para o portal Brasiliana, acerca da “Imprensa Jesuitítca-Guarani no Paraguai”. Fernanda é jornalista e doutoranda em História Moderna e Contemporânea pela universidade de Sorbone, de Parias (França).
A entrevista ocorreu pelo fato de que a Brasiliana da Universidade de Sao Paulo - USP, digitalizou dois livros das missões jesuitícas do Paraguai: Arte de la lengua guarani, de Antonio Ruiz de Montoya e o Explicacion de el catechismo en lengua guarani, de Nicolas Yapuguay, ambos impressos em 1724 no Pueblo de Santa Maria La Mayor, sendo livros muito raros, parte do que restou da produção de livros nas missões jesuíticas no Paraguai, que chegou a existir no período de 1700 a 1727.
Estes livros trazem o emblema do fato de terem sido as primeira manisfestações do vocabulário das línguas indígenas que até então não tinham sido escritas.
Para se ter uma idéia da tremenda riqueza que representam estes livros, o Diferencia entre lo temporal y eterno, impresso em 1705, trazendo 43 gravuras, do qual só existem dois exemplares do mundo, localizados na Argentina, já teve proposta de compra (recusada pelo colecionador!) numa oferta superior a dois milhões de euros!
Obs. - tive acesso aos dois livros graças a divulgação da Biblioteca Digital Curt Nimuendaju. (JWG).

A lenda da erva mate

Publicada tempos atrás no antigo jornal do Correio do Povo, de Porto Alegre, a Lenda da Erva Mate foi republicada pelo Jornal Folha da Produção, de Cerro Largo, dia 20/07/1995, na coluna do Professor José Reichert.(JWG).

A lenda da Erva-Mate
A erva-mate já era conhecida e aproveitada pelos Guaranis que habitavam na região sul Brasil. O termo Guarani era CAA-YARI, o que significa: sumo de erva mate (chimarrão) J.Palma da Silva, publicou, há bastante tempo, no Correio do Povo, a lenda da erva mate, Ei-la.
A lenda da erva-mate guarda em sua seiva os elementos que outrora animaram o corpo da formosa índia guarani, tenra e delicada, de nome Yari. Por essa razão quem toma chimarrão , absorve com o sabor da erva, a própria alma encantada de Yari, filha de um valente chefe Guarani. Segundo a lenda foi há muitíssimos anos antes do homem branco pôr os pés nas terras da América que teve origem o miraculoso vegetal que hoje medra e enriquece muitos municípios dos Estados Sulinos do Brasil, mormente o Rio Grande do Sul, deliciando o paladar de muita gente.
O alvorecer de certo dia fora o mais belo da nova e tépida estação das flores e dos frutos. Quando o sol espargiu sobre a mata gaucha seus primeiros resplendores, a orquestra da passarada, saudando a aurora, foi abafada pelo brado imenso da aguerrida tribo guarani que se punha em marcha. A comando do novo cacique, partia ela em busca de novas paragens, impulsionada pelo instinto errante arraigado no sangue da raça guaranitica. Todos os membros da tribo homens, mulheres, adolescentes e crianças, sentiam-se eufóricos, na expectativa de sempre novas aventuras.
Na taba abandonada, somente um único rancho continuou habitado; aquele do antigo cacique, quebrado dos anos, e que não mais tinha condições de seguir com a tribo que por longos e longos anos comandara. Somente a filha mais jovem do ancião, a formosa Yari, rejeitando a corte de muitos valentes guerreiros guaranis, resolveu permanecer junto ao alquebrado cacique-pai. Boa filha quis ela ficar junto do pai, para ampará-lo na amarga decrepitude do resto de sua vida.
Sentado a porta do rancho o velho seguia, com vista cansada a tribo distanciar-se mais e mais, na lonjura das coxilhas. Vieram à lembrança as inúmeras andanças que chefiara a frente de seu povo. Recordou como, então todos os seus admiravam a sua habilidade no manejo do arco, a bravura com que sempre enfrentara os combates, e a nobreza com que sempre tratara os prisioneiros e hospedes.
De repente o velho guerreiro reclinou a cabeça que sempre mantivera erguida, escondendo-a nas mãos , e as lagrimas quentes da saudade umedeceram-lhe pela primeira vez, a face sulcada, como as bossorocas do chão nativo. Quando enfim, ergueu o rosto, com o peito mais desoprimido viu diante de si um jovem de aspecto estranho. Não era ele de nenhuma das terras conhecidas. Tinha o jovem a pele alva e os olhos da cor do céu. Era lindo o manto que revestia.
Tratando de cumprir os seus deveres de hospitalidade, chamou yari. Fez o viajante adentrar seu rancho, oferecendo a rede para repousar. Sem demora a moça serviu o mel mais saboroso das mirins e os frutos mais gostosos, recém colhidos.
O sol subiu, declinou no arco da tarde, a poucas braças do horizonte. Foi quando o jovem anunciou que iria partir. Instado a que pernoitasse mesmo porque seria temeridade enfrentar a noite, o visitante revelou sua condição de enviado de Tupã, o Deus do Bem preferindo estas palavras “Sou portador de uma graça para ti e todos os da tua raça. especialmente para aqueles que, como tu, chegou a idade da solidão e da saudade. Vou agraciar tua linda filha com uma árvore que se multiplicará, cobrindo todas as matas de tua terra. Quem sorver a seiva do novo vegetal, sentirá o coração rejuvenescido e vibrar com as mesmas virtudes que animaram a alma pura e delicada de Yari”.
E os dois guaranis, pai e filha, viram surgir um misterioso esplendor do sol, a primeira planta de erva-mate.
Já se afastava o enviado de tupã, quando voltou se disse: “Yari, doravante serás a deusa dos ervais, a CAA-Yari. E teu belo corpo, e esse teu sorriso nunca mais serão vistos pelos mortais, exceto por teu velho pai e por algum ervateiro digno do teu amor”.