Por João Weber Griebeler
Ao procurarmos destrinchar os primórdios da História da nossa região missioneira da época do grande cacique Nheçu, devemos nos ater para a herança genética que nos legou a Civilização Guarani de 1626.
Esclarecedoras pinceladas a esse respeito nos repassa o pesquisador paraguaio Bartolomeu Meliá, profundo conhecedor in loco da cultura guarani desde o ano de 1969, período em que foi conviver com estes nossos irmãos de região.
Segundo Meliá, o guarani - nome que significa guerreiro -, é um notório caminhante (sendas e trilhas na mata), girando em torno de sua aldeia para armar arapucas dedicadas à caça de animais, busca de favos de mel, colheita da mandioca, enquanto toca flauta.
Esse seu gosto pelo som, aliás, foi um dos atrativos para levá-los à domesticação, empreendido pelas reduções jesuíticas.
Mais ainda, por ser uma civilização de cultura essencialmente oral, as palavras ditas tem o poder de lei para os guarani.
Por aí, chegamos ao seu idioma. A linguagem conhecida guarani remonta há cerca de 3.000 anos antes de nossa era, mas a origem desse tronco fonético Tupi-Guarani retroage a mais de 5.000 anos.
Existem cerca de oito famílias do idioma, ramificadas em outras 28!
O Povo Mbyá, do qual originou Nheçu, se esparramava numa vasta região que incluía a Argentina, o Brasil e o Paraguai.
Essa grande diversidade dialetal, em que são reconhecidos pelo menos seis idiomas, se deve ao já citado hábito de caminhante do povo guarani, que se afastava para outros rincões da mata, onde havia mais abundancia de comida, sendo a imensa “nação” guarani um resultado desses meios de vida.
A comida era uma preocupação tão grande entre esse povo que a primeira palavra guarani registrada em idioma castelhano foi “avati” (milho) por Diego García, em uma carta de 1530.
Bartolomeu Meliá estará na Unisinos, em São Leopoldo, dia 26 de outubro de 2010, durante o 12 Simpósio Internacional – A Experiência Missioneira: território, cultura e identidade, onde ministrará a palestra A cosmologia indígena e a religião cristã: encontros e desencontro de universos simbólicos.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Nheçu existiu realmente?
Diferente da busca dos relatos bíblicos de Jesus Cristo, que procuram comprovar sua efetiva existência, a busca dos dados históricos de Nheçu é mais fácil devido aos avanços da civilização em face dos livros e arquivos em poder de instituições da Espanha e da Igreja Católica (1).
Assim, Nheçu entrou para a história já nos primeiros relatos elaborados pelos jesuítas, contemporâneos dele, como o padre Antônio Ruiz de Montoya, em seu livro de título quilométrico: Conquista Espiritual, feita pelos Religiosas da Companhia de Jesus nas Províncias de Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape, de 1639 (a 2a edição saiu em 1892, sempre no idioma espanhol antigo), além das Cartas Anuas, que eram o relatório anual das atividades realizadas por cada sacerdote jesuíta e remetida para sua congregação, a Companhia de Jesus.
Comentando a ação de Nheçu, Montoya, em esclarecedoras palavras, conta do clima de animosidade existente entre os padres e Nheçu e, também, a importância deste chefe tribal: “Morava por aqueles contornos (o Cerro do Inhacurutum) o maior dos caciques que aqueles “países” (2) conheceram. Faziam-no respeitado as suas artimanhas, embustes e magias, com as quais enganava aquela gente bárbara. Chamava-se ele Nheçu (!): o que quer dizer “Reverência”.
Em diversas versões da história do Rio Grande do Sul, Nheçu passou a ser citado por alguns historiadores, a partir do livro de Carlos Teschauer, História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos.
Acontece, porém, que este livro, numa série de três volumes, foi editado apenas uma vez, nos anos de 1918, 1921 e 1922, respectivamente, ficando a partir de então, restrito às bibliotecas que por ventura o possuíssem, somente voltando a ser reeditado no ano de 2002 pela Editora da Unisinos, com uma “transcrição com atualização ortográfica e tradução vernácula”, algo polêmica, feita pelo jesuíta Arthur Rabuske.
Entretanto, será de forma mais recente e massiva que Nheçu irá aparecer com mais força, isso ocorrendo a partir do livro de Ruy Nedel, Esta Terra Teve Dono, lançado em 1983, além de Barbosa Lessa com Nheçu - no corredor central (1999), ABC do Tradicionalismo Gaúcho, onde Salvador Lamberty chama Nheçu de Palanque da Resistência Americana - “Nheçu, que muitos chamam de feiticeiro, foi o verdadeiro líder do povo indígena. Quem defendeu a nação do Tape. Sepe Tiaraju foi o símbolo da coragem de um povo aculturado. Nheçu foi o símbolo de um povo que pereceu apegado a seus princípios, defendendo sua Nação - !”, Sergio Venturini com Inhacurutum e as Missões Jesuíticas (2000) e outros autores, assim como as iniciativas efetuadas por pessoas oriundas da comunidade de Roque Gonzales (3), como as crônicas de Nelson Hoffmann, publicadas ao longo dos anos e reunidas no livro Terra de Nheçu (2006), a formação da Associação Cultural Nheçuana (2009) e a disseminação de artigos e matérias na rede mundial de computadores, a internet, em espaços criados em cima destes fatos e, para saber a extensão disso, bastando digitar a palavra NHEÇU no seu computador!
NOTAS:
(1) Carlos Teschauer, alemão, autor da História do Rio Grande do Sul dos Dois Primeiros Séculos, obra em três volumes, cuja montagem durou 10 anos e contou com viagens a Buenos Aires, Rio de Janeiro e consultas a arquivos em Roma, Bruxelas, Espanha e Portugal, entre outras cidades.
(2) “Países” porque toda essa vasta região pertencia à Espanha!
(3) O primeiro conto de JWG, História Guarani publicado na antologia CONTOS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO (1997), de forma ficcional, traz a lume as disputas de credos e crenças entre Nheçu e um índio e sua família, recém-convertidos ao catolicismo.
Assim, Nheçu entrou para a história já nos primeiros relatos elaborados pelos jesuítas, contemporâneos dele, como o padre Antônio Ruiz de Montoya, em seu livro de título quilométrico: Conquista Espiritual, feita pelos Religiosas da Companhia de Jesus nas Províncias de Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape, de 1639 (a 2a edição saiu em 1892, sempre no idioma espanhol antigo), além das Cartas Anuas, que eram o relatório anual das atividades realizadas por cada sacerdote jesuíta e remetida para sua congregação, a Companhia de Jesus.
Comentando a ação de Nheçu, Montoya, em esclarecedoras palavras, conta do clima de animosidade existente entre os padres e Nheçu e, também, a importância deste chefe tribal: “Morava por aqueles contornos (o Cerro do Inhacurutum) o maior dos caciques que aqueles “países” (2) conheceram. Faziam-no respeitado as suas artimanhas, embustes e magias, com as quais enganava aquela gente bárbara. Chamava-se ele Nheçu (!): o que quer dizer “Reverência”.
Em diversas versões da história do Rio Grande do Sul, Nheçu passou a ser citado por alguns historiadores, a partir do livro de Carlos Teschauer, História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos.
Acontece, porém, que este livro, numa série de três volumes, foi editado apenas uma vez, nos anos de 1918, 1921 e 1922, respectivamente, ficando a partir de então, restrito às bibliotecas que por ventura o possuíssem, somente voltando a ser reeditado no ano de 2002 pela Editora da Unisinos, com uma “transcrição com atualização ortográfica e tradução vernácula”, algo polêmica, feita pelo jesuíta Arthur Rabuske.
Entretanto, será de forma mais recente e massiva que Nheçu irá aparecer com mais força, isso ocorrendo a partir do livro de Ruy Nedel, Esta Terra Teve Dono, lançado em 1983, além de Barbosa Lessa com Nheçu - no corredor central (1999), ABC do Tradicionalismo Gaúcho, onde Salvador Lamberty chama Nheçu de Palanque da Resistência Americana - “Nheçu, que muitos chamam de feiticeiro, foi o verdadeiro líder do povo indígena. Quem defendeu a nação do Tape. Sepe Tiaraju foi o símbolo da coragem de um povo aculturado. Nheçu foi o símbolo de um povo que pereceu apegado a seus princípios, defendendo sua Nação - !”, Sergio Venturini com Inhacurutum e as Missões Jesuíticas (2000) e outros autores, assim como as iniciativas efetuadas por pessoas oriundas da comunidade de Roque Gonzales (3), como as crônicas de Nelson Hoffmann, publicadas ao longo dos anos e reunidas no livro Terra de Nheçu (2006), a formação da Associação Cultural Nheçuana (2009) e a disseminação de artigos e matérias na rede mundial de computadores, a internet, em espaços criados em cima destes fatos e, para saber a extensão disso, bastando digitar a palavra NHEÇU no seu computador!
NOTAS:
(1) Carlos Teschauer, alemão, autor da História do Rio Grande do Sul dos Dois Primeiros Séculos, obra em três volumes, cuja montagem durou 10 anos e contou com viagens a Buenos Aires, Rio de Janeiro e consultas a arquivos em Roma, Bruxelas, Espanha e Portugal, entre outras cidades.
(2) “Países” porque toda essa vasta região pertencia à Espanha!
(3) O primeiro conto de JWG, História Guarani publicado na antologia CONTOS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO (1997), de forma ficcional, traz a lume as disputas de credos e crenças entre Nheçu e um índio e sua família, recém-convertidos ao catolicismo.
O eterno Bombeador da história!
Por João Weber Griebeler – HISTORIADOR
Enquanto se procura arranjar atrações turísticas para Roque Gonzales, temos aqui algo único e de alcance mundial, que é a historia de Nheçu, legada para nós desde 1628 e que nunca obteve qualquer benefício de apoio e divulgação de parte dos poderes constituídos!
A sina de Nheçu parece ser a de viver à parte da história oficial, por ser autêntico e defender seus pontos de vista, ser para sempre um eterno “Bombeador” lá do Cerro do Inhacurutum.
Nheçu somente será mais conhecido quando a comunidade assumir essa divulgação como um todo engajado, quando percebermos que temos essa imensa riqueza adormecida, escondida onde outrora eram matas repletas de vida, bichos e de nascentes d´águas límpidas, onde a Natureza era respeitada, sem o uso de pesticidas e de secantes do verde, pois Nheçu, e todos os índios, sabiam que para viver, tinham de manter a Natureza Viva...
Agora Nheçu vem sendo muito lembrado, está adquirindo status de galã, mas houve épocas em que isso era diferente, período em que defender um índio era alguma coisa de impensável. Recordo de certo episódio acontecido, onde se “repartiu” a história da 1a Fase das Missões (1610-1637) e disseram para mim: “Você fica com os bugres e eu fico com os padres”!
Pois, com muita honra e sobriedade, eu continuo “pensando” como índio, para poder escrever com fundamento.
Aliás, falando nessa história recente, observem determinadas pessoas que se fizeram presentes na constituição da Associação Nheçuana, também elas, particularmente, ou suas famílias, foram artífices da construção e edificação do Santuário de Assunção do Ijuí a partir de 1988, em honra a um dos Três Mártires das Missões, o padre jesuíta João de Castilho, martirizado pelos aliados de Nheçu, a mando do cacique.
Isso se pode considerar um avanço, num sinal dos tempos com a mudança dos costumes, valorizando a autenticidade de Nheçu em defesa de seus direitos à vida tribal, em face de outros costumes!
Considerando que essa é a nossa possibilidade de sobressair ao mundo com algo único, com verdadeiro interesse turístico e cultural, voltamos a falar de Nheçu nesta edição, assim iremos falar de Nheçu e, voltaremos a falar de Nheçu!
Enquanto se procura arranjar atrações turísticas para Roque Gonzales, temos aqui algo único e de alcance mundial, que é a historia de Nheçu, legada para nós desde 1628 e que nunca obteve qualquer benefício de apoio e divulgação de parte dos poderes constituídos!
A sina de Nheçu parece ser a de viver à parte da história oficial, por ser autêntico e defender seus pontos de vista, ser para sempre um eterno “Bombeador” lá do Cerro do Inhacurutum.
Nheçu somente será mais conhecido quando a comunidade assumir essa divulgação como um todo engajado, quando percebermos que temos essa imensa riqueza adormecida, escondida onde outrora eram matas repletas de vida, bichos e de nascentes d´águas límpidas, onde a Natureza era respeitada, sem o uso de pesticidas e de secantes do verde, pois Nheçu, e todos os índios, sabiam que para viver, tinham de manter a Natureza Viva...
Agora Nheçu vem sendo muito lembrado, está adquirindo status de galã, mas houve épocas em que isso era diferente, período em que defender um índio era alguma coisa de impensável. Recordo de certo episódio acontecido, onde se “repartiu” a história da 1a Fase das Missões (1610-1637) e disseram para mim: “Você fica com os bugres e eu fico com os padres”!
Pois, com muita honra e sobriedade, eu continuo “pensando” como índio, para poder escrever com fundamento.
Aliás, falando nessa história recente, observem determinadas pessoas que se fizeram presentes na constituição da Associação Nheçuana, também elas, particularmente, ou suas famílias, foram artífices da construção e edificação do Santuário de Assunção do Ijuí a partir de 1988, em honra a um dos Três Mártires das Missões, o padre jesuíta João de Castilho, martirizado pelos aliados de Nheçu, a mando do cacique.
Isso se pode considerar um avanço, num sinal dos tempos com a mudança dos costumes, valorizando a autenticidade de Nheçu em defesa de seus direitos à vida tribal, em face de outros costumes!
Considerando que essa é a nossa possibilidade de sobressair ao mundo com algo único, com verdadeiro interesse turístico e cultural, voltamos a falar de Nheçu nesta edição, assim iremos falar de Nheçu e, voltaremos a falar de Nheçu!
Por breves momentos, a Terra sem Males!
Por João Weber Griebeler
Missões Jesuítico-Guaranis, livro mais recente do Bispo Emérito, Dom Estanislau Kreutz, que por longos anos administrou os paroquianos da Diocese Angepolitana e agora , como escritor, lança obra histórica, trazendo a lume, diversos aspectos novos para quem se dedica ao estudo da História Missioneira!
Uma curiosidade é que os pesquisadores católicos, não fazem citação de textos de qualquer autor, este tem que merecer credibilidade perante o clero, para ser referência. Na bibliografia dos livros utilizados para escrever este obra, diversos autores não comparecem, talvez por fazer conjeturas não confirmadas.
As novas informações são, na maior dos casos, oriundas do livro Misiones y sus pueblos de Guaranies, de Guliullermo Furlong, publicado na cidade argentina de Posadas, Misiones, no ano da graça de 1979, com 788 páginas, sendo este o mais citado.
O livro traz uma ordenada síntese histórica das Missões, seu cotidiano, ideal para estudantes de todas as idades. Um ABC enxuto, vivaz, com os dados novos já referidos. Exemplo: muitos padres jesuítas eram boticários ou farmacêuticos, além de médicos-cirurgiões, pois para se embrenhar na mata cerrada, cumpria ter um mínimo de assistência da saúde. Um dos motivos da quebra do sistema de reduções foi que após a expulsão dos jesuítas, estas ficaram sem assistência médica.
Voltando à análise de Missões Jesuítico-Guaranis, vejo que a busca de uma TERRA SEM MALES na terra vinha através das escolas, que existiam em todas as reduções, onde os jovens curumins recebiam instrução, com enfoque na música, sendo que a conquista da terra indômita foi realizada ao som de muitas melodias, não esquecendo que o sino das reduções foi uma novidade que atraia e, ao mesmo tempo, causava temor. Um cristão neófito não devia viver longe de seu campanário!
Segundo Dom Estanislau: “Os índios eram lentos no serviço, conversadores e matistas.” (Tomadores de chimarrão, a erva mate). Havia uma metódica distribuição de tarefas. Ignácio de Loyola, fundador dos Jesuítas era militar, daí o senso de organização da Ordem Religiosa que ele reuniu em torno de si.
Assim, “duzentos índios ocupavam-se em cada redução com a criação de gado. Cem se prestavam a espantar as caturritas daninhas na plantação. Os ervais contavam com o trabalho de quinhentos e mil índios. Havia que limpar a terra, cultivá-la e, em tempo de seca, regar os ervais.” Aqui há um dado interessante, pois as Missões, hoje, quase não produzem mais erva mate. Será por este pequeno detalhe da laboriosa irrigação que os indígenas faziam em tempos de estiagem?
Como Pastor, esclarecedor é o apanhado que o Bispo faz da atual situação das paróquias católicas das Missões, que, em síntese, são a presença física que restou das antigas reduções missioneiras em nossa região.
Para adquirir o livro, contatar à Livraria da Cúria Diocesana ou à sua paróquia, que é onde adquiri o meu exemplar.
Tel: (55) 3313-5263, com Marlene.
Missões Jesuítico-Guaranis, livro mais recente do Bispo Emérito, Dom Estanislau Kreutz, que por longos anos administrou os paroquianos da Diocese Angepolitana e agora , como escritor, lança obra histórica, trazendo a lume, diversos aspectos novos para quem se dedica ao estudo da História Missioneira!
Uma curiosidade é que os pesquisadores católicos, não fazem citação de textos de qualquer autor, este tem que merecer credibilidade perante o clero, para ser referência. Na bibliografia dos livros utilizados para escrever este obra, diversos autores não comparecem, talvez por fazer conjeturas não confirmadas.
As novas informações são, na maior dos casos, oriundas do livro Misiones y sus pueblos de Guaranies, de Guliullermo Furlong, publicado na cidade argentina de Posadas, Misiones, no ano da graça de 1979, com 788 páginas, sendo este o mais citado.
O livro traz uma ordenada síntese histórica das Missões, seu cotidiano, ideal para estudantes de todas as idades. Um ABC enxuto, vivaz, com os dados novos já referidos. Exemplo: muitos padres jesuítas eram boticários ou farmacêuticos, além de médicos-cirurgiões, pois para se embrenhar na mata cerrada, cumpria ter um mínimo de assistência da saúde. Um dos motivos da quebra do sistema de reduções foi que após a expulsão dos jesuítas, estas ficaram sem assistência médica.
Voltando à análise de Missões Jesuítico-Guaranis, vejo que a busca de uma TERRA SEM MALES na terra vinha através das escolas, que existiam em todas as reduções, onde os jovens curumins recebiam instrução, com enfoque na música, sendo que a conquista da terra indômita foi realizada ao som de muitas melodias, não esquecendo que o sino das reduções foi uma novidade que atraia e, ao mesmo tempo, causava temor. Um cristão neófito não devia viver longe de seu campanário!
Segundo Dom Estanislau: “Os índios eram lentos no serviço, conversadores e matistas.” (Tomadores de chimarrão, a erva mate). Havia uma metódica distribuição de tarefas. Ignácio de Loyola, fundador dos Jesuítas era militar, daí o senso de organização da Ordem Religiosa que ele reuniu em torno de si.
Assim, “duzentos índios ocupavam-se em cada redução com a criação de gado. Cem se prestavam a espantar as caturritas daninhas na plantação. Os ervais contavam com o trabalho de quinhentos e mil índios. Havia que limpar a terra, cultivá-la e, em tempo de seca, regar os ervais.” Aqui há um dado interessante, pois as Missões, hoje, quase não produzem mais erva mate. Será por este pequeno detalhe da laboriosa irrigação que os indígenas faziam em tempos de estiagem?
Como Pastor, esclarecedor é o apanhado que o Bispo faz da atual situação das paróquias católicas das Missões, que, em síntese, são a presença física que restou das antigas reduções missioneiras em nossa região.
Para adquirir o livro, contatar à Livraria da Cúria Diocesana ou à sua paróquia, que é onde adquiri o meu exemplar.
Tel: (55) 3313-5263, com Marlene.
Procurando vestígios
Por João Weber Griebeler
Antigamente, as estradas eram formadas pelos rios, os verdadeiros caminhos por onde se deslizava em canoas com a força dos remos. Assim, o Rio Ijuí pertencia a uma rota percorrida pelas tribos guarani mbya.
Como a denominação de Pirapó quer dizer “lugar onde o peixe salta”, o local era uma parada obrigatória na migração indígena.
O traçado de navegação indígena tem importantes conexões com o Rio Uruguai, com o Paraguai, local de origem desta etnia. Foi este um dos caminhos mais percorridos pelos primeiros padres jesuítas quando aqui estiveram em 1626 e 1628, Roque Gonzales, João de Castilho e Afonso Rodrigues.
Estes locais de parada serviam para descanso da tribo, assim como em épocas da pesca ser farta. Para os índios, não existia a escravidão do relógio e do calendário. Viajava-se quando dava vontade, dormia-se onde podia abrigar-se das feras à noite, onde a comida se mostrasse e, nesse particular, o Lugar Onde o Peixe Salta, as quedas do Salto Pirapó, era uma excelente pedida!
O fogo já era conhecido pelos indígenas, porém a forma como serviam suas panelas para cozer os alimentos não era como a conhecida maneira de pendurar a panela por sobre a fogueira, já que um objeto de argila aquecido não suportaria ficar suspenso. Dessa forma, aquecia-se uma pedra no fogo e jogava-se dentro da panela!
Nos informa o historiador argentino, Alejandro Larguía, de Posadas: “Sem dúvida, houve assentamentos dos guaranis em toda área das bacias dos rios Ijuí, Piratini e Camaqua, bem provado está pela fundação de São Nicolau de Piratini pelo santo Roque Gonzalez com cola-boração dos caciques guaranis, amigos de Nicolas Ñenguiru o primeiro cacique convertido da banda oeste do rio Uruguai. Toda a banda oriental do rio Uruguai tinha muitos assentamentos guaranis até o rio Ibicui, perto de Itaqui.”
Na sexta-feira, 30/11, encontramos o Sr Albano Caye junto a Pedra Fundamental e ele reanimou aquela conversa existente sobre a descoberta de uma panela indígena ali nas proximidades, esta panela de argila teria vindo a superfície partida pelo arado conduzido por seu filho Ademar Caye, que fez o achado ao arar a terra para plantio da lavoura.
Nos dirigimos à Assessora de Imprensa da Eletrosul, Adriana Haas, que nos encaminhou para a bióloga Juliana Felden, a qual marcou uma visita de reconhecimento com o Sr Albano Caye para demarcar a área de um possível sítio arqueológico e encaminhar pedido da vinda de arqueólogos para pesquisar na referida área, que pertence à Eletrosul.
Poderá se estar assistindo a um embrionário museu indígena, com achados referentes ao 1o Ciclo das Missões (1626-1637), algo que nem São Miguel das Missões possui, por pertencer ao 2o Ciclo das Missões (1682-1767)!
Trata-se de um potencial de riqueza turística fenomenal, por inexistir algo que se enquadre a isso!
O sítio arqueológico em questão, nos informa também o Sr Aldino Spohr, com que quem fizemos matéria no mês de maio, sobre sua coleção de pontas de flecha de Pedra Lascada, fica junto ao capão de mato, que ainda existe, em área da usina a ser preservada, a cerca de 200 metros de onde foi lançada a Pedra Fundamental na sexta-feira, 30 de novembro. .
Antigamente, as estradas eram formadas pelos rios, os verdadeiros caminhos por onde se deslizava em canoas com a força dos remos. Assim, o Rio Ijuí pertencia a uma rota percorrida pelas tribos guarani mbya.
Como a denominação de Pirapó quer dizer “lugar onde o peixe salta”, o local era uma parada obrigatória na migração indígena.
O traçado de navegação indígena tem importantes conexões com o Rio Uruguai, com o Paraguai, local de origem desta etnia. Foi este um dos caminhos mais percorridos pelos primeiros padres jesuítas quando aqui estiveram em 1626 e 1628, Roque Gonzales, João de Castilho e Afonso Rodrigues.
Estes locais de parada serviam para descanso da tribo, assim como em épocas da pesca ser farta. Para os índios, não existia a escravidão do relógio e do calendário. Viajava-se quando dava vontade, dormia-se onde podia abrigar-se das feras à noite, onde a comida se mostrasse e, nesse particular, o Lugar Onde o Peixe Salta, as quedas do Salto Pirapó, era uma excelente pedida!
O fogo já era conhecido pelos indígenas, porém a forma como serviam suas panelas para cozer os alimentos não era como a conhecida maneira de pendurar a panela por sobre a fogueira, já que um objeto de argila aquecido não suportaria ficar suspenso. Dessa forma, aquecia-se uma pedra no fogo e jogava-se dentro da panela!
Nos informa o historiador argentino, Alejandro Larguía, de Posadas: “Sem dúvida, houve assentamentos dos guaranis em toda área das bacias dos rios Ijuí, Piratini e Camaqua, bem provado está pela fundação de São Nicolau de Piratini pelo santo Roque Gonzalez com cola-boração dos caciques guaranis, amigos de Nicolas Ñenguiru o primeiro cacique convertido da banda oeste do rio Uruguai. Toda a banda oriental do rio Uruguai tinha muitos assentamentos guaranis até o rio Ibicui, perto de Itaqui.”
Na sexta-feira, 30/11, encontramos o Sr Albano Caye junto a Pedra Fundamental e ele reanimou aquela conversa existente sobre a descoberta de uma panela indígena ali nas proximidades, esta panela de argila teria vindo a superfície partida pelo arado conduzido por seu filho Ademar Caye, que fez o achado ao arar a terra para plantio da lavoura.
Nos dirigimos à Assessora de Imprensa da Eletrosul, Adriana Haas, que nos encaminhou para a bióloga Juliana Felden, a qual marcou uma visita de reconhecimento com o Sr Albano Caye para demarcar a área de um possível sítio arqueológico e encaminhar pedido da vinda de arqueólogos para pesquisar na referida área, que pertence à Eletrosul.
Poderá se estar assistindo a um embrionário museu indígena, com achados referentes ao 1o Ciclo das Missões (1626-1637), algo que nem São Miguel das Missões possui, por pertencer ao 2o Ciclo das Missões (1682-1767)!
Trata-se de um potencial de riqueza turística fenomenal, por inexistir algo que se enquadre a isso!
O sítio arqueológico em questão, nos informa também o Sr Aldino Spohr, com que quem fizemos matéria no mês de maio, sobre sua coleção de pontas de flecha de Pedra Lascada, fica junto ao capão de mato, que ainda existe, em área da usina a ser preservada, a cerca de 200 metros de onde foi lançada a Pedra Fundamental na sexta-feira, 30 de novembro. .
Sitio arqueológico em Roque Gonzales
Por João Weber Griebeler
Certa feita, foi me repassado um recado, “em curva”, quando comentei aqui no Jornal Igaçaba, meses atrás, sobre a existência de sítio arqueológico no Salto Pirapó, sob pena, ressalvaram, de que essa descoberta fosse interromper os trabalhos de construção da Usina Salto São João.
As descobertas de vestígios dos guarani que aqui transitaram é coisa comprovada!
As pontas de flechas, por exemplo. Calcula-se que elas eram fabricadas por caçadores colhedores de alimentos e, isto teria começado a ocorrer a partir do ano 7 mil a. C. , ou seja 9.000 atrás, estando aí algo a ser comprovado pela datação histórica dos objetos encontrados por meio de Carbono 14, ou outros tipos de medição temporal, pois se calcula que a nação guarani teria começado a se manifestar a uns 3 mil anos atrás.
Pontas de flechas, encontradas por Aldino Spohr nas margens do Rio Ijuí, no Salto Pirapó, próximas das cachoeiras do Salto, sendo esta uma característica de se descobri-las nas margens de arroios e rios com cachoeiras, provando ser o Salto Pirapó, “lugar onde o peixe salta”, um local regional para abastecer as tribos com carne de peixe.
Segundo avaliações, as pontas de flecha seriam de pedras diferentes daquelas existentes no leito do Rio Ijuí, tendo vindo parar ali pelo uso de flechas na pesca dos peixes, quando subiam o rio.
O índio ficava de espera e, quando surgia um peixe grande, disparava a flecha, ou lança, fisgando o incauto!
As pontas de flecha começaram a ser utilizadas por caçadores no período Neolítico, ou cerca de 4 mil anos a. C!
Boleadeiras e Machadinha, depositadas na Lancheria Dani, foram reunidas por Iraci Luft, após serem encontradas na antiga propriedade de seu pai, Aldino Luft, no Salto Pirapó, a cerca de 1 quilômetro da margem do Rio Ijuí. Também acompanhava o conjunto cacos de cerâmica e a área em torno dessa descoberta, formava um solo de coloração diferente (barro preto), num círculo de cerca de 20 m2, mostrando que o local se destinava a produção de objetos de barro cozido.
Panela e Machadinha – o presidente da Associação Nheçuana, Giani Schmidt da Silva, entrevistou Ademar Caye e esposa, antigos moradores do Salto Pirapó, sobre o encontro de vestígios de panelas e uma machadinha indígena guarani. Notem o trabalhado da face externa da panela, sendo no interior liso, para cozinhar alimentos.
O Rio Uruguai, que se interliga com o Rio Ijuí, no Distrito de Rincão Vermelho, na Barra do Ijuí, é depositário de muitos vestígios arqueológicos importantes na margem castelhana, como Garruchos e Santo Tomé, entre outros locais, comprovando o transito das tribos indígenas por barco no decorrer dos séculos.
MAIS VESTÍGIOS - As boleadeiras eram utilizadas para caçar, derrubando os animais em fuga.
A machadinha era escavada na rocha, com fio próprio para cortar, utilizadas na caça e nas lutas com tribos inimigas.
Certa feita, foi me repassado um recado, “em curva”, quando comentei aqui no Jornal Igaçaba, meses atrás, sobre a existência de sítio arqueológico no Salto Pirapó, sob pena, ressalvaram, de que essa descoberta fosse interromper os trabalhos de construção da Usina Salto São João.
As descobertas de vestígios dos guarani que aqui transitaram é coisa comprovada!
As pontas de flechas, por exemplo. Calcula-se que elas eram fabricadas por caçadores colhedores de alimentos e, isto teria começado a ocorrer a partir do ano 7 mil a. C. , ou seja 9.000 atrás, estando aí algo a ser comprovado pela datação histórica dos objetos encontrados por meio de Carbono 14, ou outros tipos de medição temporal, pois se calcula que a nação guarani teria começado a se manifestar a uns 3 mil anos atrás.
Pontas de flechas, encontradas por Aldino Spohr nas margens do Rio Ijuí, no Salto Pirapó, próximas das cachoeiras do Salto, sendo esta uma característica de se descobri-las nas margens de arroios e rios com cachoeiras, provando ser o Salto Pirapó, “lugar onde o peixe salta”, um local regional para abastecer as tribos com carne de peixe.
Segundo avaliações, as pontas de flecha seriam de pedras diferentes daquelas existentes no leito do Rio Ijuí, tendo vindo parar ali pelo uso de flechas na pesca dos peixes, quando subiam o rio.
O índio ficava de espera e, quando surgia um peixe grande, disparava a flecha, ou lança, fisgando o incauto!
As pontas de flecha começaram a ser utilizadas por caçadores no período Neolítico, ou cerca de 4 mil anos a. C!
Boleadeiras e Machadinha, depositadas na Lancheria Dani, foram reunidas por Iraci Luft, após serem encontradas na antiga propriedade de seu pai, Aldino Luft, no Salto Pirapó, a cerca de 1 quilômetro da margem do Rio Ijuí. Também acompanhava o conjunto cacos de cerâmica e a área em torno dessa descoberta, formava um solo de coloração diferente (barro preto), num círculo de cerca de 20 m2, mostrando que o local se destinava a produção de objetos de barro cozido.
Panela e Machadinha – o presidente da Associação Nheçuana, Giani Schmidt da Silva, entrevistou Ademar Caye e esposa, antigos moradores do Salto Pirapó, sobre o encontro de vestígios de panelas e uma machadinha indígena guarani. Notem o trabalhado da face externa da panela, sendo no interior liso, para cozinhar alimentos.
O Rio Uruguai, que se interliga com o Rio Ijuí, no Distrito de Rincão Vermelho, na Barra do Ijuí, é depositário de muitos vestígios arqueológicos importantes na margem castelhana, como Garruchos e Santo Tomé, entre outros locais, comprovando o transito das tribos indígenas por barco no decorrer dos séculos.
MAIS VESTÍGIOS - As boleadeiras eram utilizadas para caçar, derrubando os animais em fuga.
A machadinha era escavada na rocha, com fio próprio para cortar, utilizadas na caça e nas lutas com tribos inimigas.
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