Publicada tempos atrás no antigo jornal do Correio do Povo, de Porto Alegre, a Lenda da Erva Mate foi republicada pelo Jornal Folha da Produção, de Cerro Largo, dia 20/07/1995, na coluna do Professor José Reichert.(JWG).
A lenda da Erva-Mate
A erva-mate já era conhecida e aproveitada pelos Guaranis que habitavam na região sul Brasil. O termo Guarani era CAA-YARI, o que significa: sumo de erva mate (chimarrão) J.Palma da Silva, publicou, há bastante tempo, no Correio do Povo, a lenda da erva mate, Ei-la.
A lenda da erva-mate guarda em sua seiva os elementos que outrora animaram o corpo da formosa índia guarani, tenra e delicada, de nome Yari. Por essa razão quem toma chimarrão , absorve com o sabor da erva, a própria alma encantada de Yari, filha de um valente chefe Guarani. Segundo a lenda foi há muitíssimos anos antes do homem branco pôr os pés nas terras da América que teve origem o miraculoso vegetal que hoje medra e enriquece muitos municípios dos Estados Sulinos do Brasil, mormente o Rio Grande do Sul, deliciando o paladar de muita gente.
O alvorecer de certo dia fora o mais belo da nova e tépida estação das flores e dos frutos. Quando o sol espargiu sobre a mata gaucha seus primeiros resplendores, a orquestra da passarada, saudando a aurora, foi abafada pelo brado imenso da aguerrida tribo guarani que se punha em marcha. A comando do novo cacique, partia ela em busca de novas paragens, impulsionada pelo instinto errante arraigado no sangue da raça guaranitica. Todos os membros da tribo homens, mulheres, adolescentes e crianças, sentiam-se eufóricos, na expectativa de sempre novas aventuras.
Na taba abandonada, somente um único rancho continuou habitado; aquele do antigo cacique, quebrado dos anos, e que não mais tinha condições de seguir com a tribo que por longos e longos anos comandara. Somente a filha mais jovem do ancião, a formosa Yari, rejeitando a corte de muitos valentes guerreiros guaranis, resolveu permanecer junto ao alquebrado cacique-pai. Boa filha quis ela ficar junto do pai, para ampará-lo na amarga decrepitude do resto de sua vida.
Sentado a porta do rancho o velho seguia, com vista cansada a tribo distanciar-se mais e mais, na lonjura das coxilhas. Vieram à lembrança as inúmeras andanças que chefiara a frente de seu povo. Recordou como, então todos os seus admiravam a sua habilidade no manejo do arco, a bravura com que sempre enfrentara os combates, e a nobreza com que sempre tratara os prisioneiros e hospedes.
De repente o velho guerreiro reclinou a cabeça que sempre mantivera erguida, escondendo-a nas mãos , e as lagrimas quentes da saudade umedeceram-lhe pela primeira vez, a face sulcada, como as bossorocas do chão nativo. Quando enfim, ergueu o rosto, com o peito mais desoprimido viu diante de si um jovem de aspecto estranho. Não era ele de nenhuma das terras conhecidas. Tinha o jovem a pele alva e os olhos da cor do céu. Era lindo o manto que revestia.
Tratando de cumprir os seus deveres de hospitalidade, chamou yari. Fez o viajante adentrar seu rancho, oferecendo a rede para repousar. Sem demora a moça serviu o mel mais saboroso das mirins e os frutos mais gostosos, recém colhidos.
O sol subiu, declinou no arco da tarde, a poucas braças do horizonte. Foi quando o jovem anunciou que iria partir. Instado a que pernoitasse mesmo porque seria temeridade enfrentar a noite, o visitante revelou sua condição de enviado de Tupã, o Deus do Bem preferindo estas palavras “Sou portador de uma graça para ti e todos os da tua raça. especialmente para aqueles que, como tu, chegou a idade da solidão e da saudade. Vou agraciar tua linda filha com uma árvore que se multiplicará, cobrindo todas as matas de tua terra. Quem sorver a seiva do novo vegetal, sentirá o coração rejuvenescido e vibrar com as mesmas virtudes que animaram a alma pura e delicada de Yari”.
E os dois guaranis, pai e filha, viram surgir um misterioso esplendor do sol, a primeira planta de erva-mate.
Já se afastava o enviado de tupã, quando voltou se disse: “Yari, doravante serás a deusa dos ervais, a CAA-Yari. E teu belo corpo, e esse teu sorriso nunca mais serão vistos pelos mortais, exceto por teu velho pai e por algum ervateiro digno do teu amor”.
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