Ao procurarmos destrinchar os primórdios da História da nossa região missioneira da época do grande cacique Nheçu, devemos nos ater para a herança genética que nos legou a Civilização Guarani de 1626.
Esclarecedoras pinceladas a esse respeito nos repassa o pesquisador paraguaio Bartolomeu Meliá, profundo conhecedor in loco da cultura guarani desde o ano de 1969, período em que foi conviver com estes nossos irmãos de região.
Segundo Meliá, o guarani - nome que significa guerreiro -, é um notório caminhante (sendas e trilhas na mata), girando em torno de sua aldeia para armar arapucas dedicadas à caça de animais, busca de favos de mel, colheita da mandioca, enquanto toca flauta.
Esse seu gosto pelo som, aliás, foi um dos atrativos para levá-los à domesticação, empreendido pelas reduções jesuíticas.
Mais ainda, por ser uma civilização de cultura essencialmente oral, as palavras ditas tem o poder de lei para os guarani.
Por aí, chegamos ao seu idioma. A linguagem conhecida guarani remonta há cerca de 3.000 anos antes de nossa era, mas a origem desse tronco fonético Tupi-Guarani retroage a mais de 5.000 anos.
Existem cerca de oito famílias do idioma, ramificadas em outras 28!
O Povo Mbyá, do qual originou Nheçu, se esparramava numa vasta região que incluía a Argentina, o Brasil e o Paraguai.
Essa grande diversidade dialetal, em que são reconhecidos pelo menos seis idiomas, se deve ao já citado hábito de caminhante do povo guarani, que se afastava para outros rincões da mata, onde havia mais abundancia de comida, sendo a imensa “nação” guarani um resultado desses meios de vida.
A comida era uma preocupação tão grande entre esse povo que a primeira palavra guarani registrada em idioma castelhano foi “avati” (milho) por Diego García, em uma carta de 1530.
Bartolomeu Meliá esteve na Unisinos, em São Leopoldo, dia 26 de outubro de 2010, durante o 12 Simpósio Internacional – A Experiência Missioneira: território, cultura e identidade, onde ministrou a palestra A cosmologia indígena e a religião cristã: encontros e desencontro de universos simbólicos.
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